domingo, 30 de janeiro de 2011

O desafio da sustentabilidade - por Valdemar Rodrigues

Mais um extracto do livro "Desenvolvimento Sustentável - uma introdução crítica"  em complemento da mensagem anterior, e com o qual partilho a visão integrada da sustentabilidade. Com os sinceros agradecimentos ao Professor Valdemar Rodrigues por ter permitido publicar textos seus neste blogue, que tanto o enriqueceram. 

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Imagem que veio do blogue Ita Tapajônica
"Nos dias que correm é no mínimo imprudente pensar-se o desenvolvimento humano à margem dos limites que a natureza sugestivamente lhe impõe. Sugestivamente porque nem sempre esses limites são nítidos, e a sociedade no seu todo, e particularmente a ciência, têm ainda grandes dificuldades em identificar as relações de causalidade envolvidas. Daí a urgência de procurar formas de tornar mais transparente a relação que existe entre qualidade do ambiente e bem-estar humano, entre pobreza e poluição, entre equidade na distribuição de recursos e igualdade de oportunidades para todos. O ideal da sustentabilidade exprime bem através dos seus princípios o alcance imenso deste desafio. Um desafio que é como se tentou demonstrar inseparável dos ideais de democracia e justiça, e que é portanto um desafio de toda a sociedade de homens livres. Um desafio para o qual existem múltiplas soluções interessantes e válidas.
Falar de sustentabilidade enquanto patamar superior de aperfeiçoamento das sociedades humanas implica também falar de justiça e de democracia.
(...)
A ideia de devolver à responsabilidade dos homens a nobre tarefa de caminhar rumo à sustentabilidade significa  o mesmo que, em democracia, a tarefa de procurar realizar a justiça. É urgente libertar o potencial criativo da sustentabilidade desse tentador totalitarismo técnico e científico, herdeiro do velho iluminismo, que o enleia e assimila.
A solução para a protecção do ambiente é algo que atravessa os tempos e as culturas humanas, e essa é com certeza outra das conclusões deste ensaio. O alcançar da sustentabilidade pode ser hoje mais um problema de visão do que de tecnologia. Mais de justiça e de ética do que de eficiência económica e de gestão ambiental. Para isso é preciso que as escolas incluam o homem no ambiente, e o estudem e respeitem enquanto homem nas suas liberdades e diferenças.
(...)
A natureza não um mero conjunto de de objectos e espaços físicos com história; meras narrativas sem narradores. O frenesi modernizante trouxe consigo a desumanização desses objectos e espaços, e uns quantos passaram a ter estatuto legal de peças de colecção, internacionalmente reconhecidas e catalogadas pela UNESCO, peças que que se tornaram dessa foram exteriores ao homem. O homem moderno, transfigurado em consumidor-espectador das coisas da natureza (e da cultura), convertido em turista globalizado no muito fátuo mundo em movimento que Zygmunt Bauman surpreende, um mundo que insiste em olhar de maneira exótica certas culturas desocidentalizadas e que confunde virtuosismo com riqueza material, justiça com legalidade, beleza com bondade, nomadismo com vagabundagem. Não são seguramente esses nem o homem nem o mundo que mais convém à sustentabilidade."

Valdemar J. Rodrigues, em "Desenvolvimento Sustentável - uma introdução crítica", Conclusões, Editora Principia, 2009. Itálico do autor. Negrito meu.

2 comentários:

  1. Pois não.
    Por onde começamos?
    Com certeza na educação.
    Não podemos deixar que giram a educação, como se de um produto se tratasse.
    A defesa da educação, diz respeito a todos nós.
    Educação para uma liberdade com ética e consciência.
    Esta é a base para que a sustentabilidade seja possível.
    Com certeza que todos estamos de acordo com isto.
    Manifestações são necessárias (não só feitas por professores).

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  2. Ana Teresa

    Começar pela educação das crianças e também dos adultos. Ainda estou convencida que a educação dos adultos (em simultâneo com as crianças) seria uma boa aposta. Mas nos primeiros tempos só resultaria qualquer coisa que fosse obrigatória, ou deixariam de receber certos benefícios.
    Muitas pessoas não mudam porque não têm informação suficiente ou coerente. Claro que há outras que é por comodismo, mas a falta de informação está sempre lá também.

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