segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Belo Monte - um exemplo da civilização disfuncional

A propósito da Civilização Disfuncional, deixo o trailer do documentário "À Margem do Xingu - Vozes Não Consideradas" sobre o impacto da maldita barragem de Belo Monte na zona da volta do Rio Xingu, Pará, Amazónia, de que já falei aqui (e também aqui). Este é um dos grandes exemplos saqueadores desta civilização, mas infelizmente são tantos e tantos por esse planeta fora, tão variados em tamanho e natureza (por cá, também os há, claro)!


"À Margem do Xingu - Vozes Não Consideradas" from Poltrona Filmes on Vimeo.

domingo, 28 de agosto de 2011

Civilização disfuncional

No capítulo do livro do qual extraí o texto que se segue, de 1992, o autor compara a civilização humana a uma família disfuncional, com a convivência entre os elementos agressores e as vitimas que sofrem, e a tendência predadora de expansão das civilizações disfuncionais.
No fundo, uma civilização doente que se recusa a enxergar as causas óbvias da sua doença e continua a procurar avidamente anestesiar-se com, precisamente, aquilo que a adoece.

"Há no coração de todas as sociedades humanas uma teia de histórias que tentam responder às nossas questões mais básicas: quem somos e porque estamos aqui? Mas à medida que o padrão destrutivo da nossa relação com a natureza se torna cada vez mais claro, começamos a interrogarmo-nos se as velhas histórias ainda fazem sentido, e, por vezes, chegámos mesmo a inventar histórias completamente novas sobre o significado e o objectivo da civilização humana.
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No mundo moderno, a divisão entre espírito e corpo, homem e natureza, criou um novo vício: penso que a nossa civilização está, de facto, viciada no consumo da própria Terra.
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Do mesmo modo que as crianças não podem rejeitar os pais, cada nova geração da nossa civilização sente-se hoje totalmente dependente da própria civilização. Os alimentos nas prateleiras dos supermercados, a água das torneiras das nossas casas, o abrigo e o sustento, o vestuário e o trabalho compensador , os divertimentos, até a nossa identidade - tudo isto é fornecido pela civilização e nem sequer nos atrevemos a pensar em nos separarmos de tal abundância.
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O ataque sem precedentes sobre o mundo natural feito pela civilização global é também extremamente complexo e muitas das suas causas estão especificamente relacionadas com os contextos geográficos e históricos dos muitos pontos de ataque. Mas em termos psicológicos, a nossa rápida e agressiva expansão sobre o que ainda resta da vida selvagem da terra representa um esforço para roubar fora da civilização aquilo que não encontramos dentro dela. O nosso impulso insaciável para procurar bem no fundo da superfície da Terra, retirar todo o carvão, petróleo e outros combustíveis fósseis que possamos encontrar e queimá-los em seguida tão rapidamente como os encontramos - enchendo assim a atmosfera de de dióxido de carbono e outros poluentes - é uma expansão internacional da civilização disfuncional para zonas vulneráveis do mundo natural. E a destruição da maior parte das florestas tropicais e das florestas antigas por parte da civilização industrial é um exemplo especialmente assustador da expansão agressiva para além de fronteiras admissíveis, um impulso insaciável de encontrar soluções exteriores para problemas que têm origem num padrão disfuncional intrínseco.

Ironicamente, a Etiópia, a primeira vítima da expansão totalitária moderna, também já foi vítima do padrão disfuncional que nos conduziu ao ataque ao mundo natural. No fim da Segunda Guerra Mundial, depois de os fascistas italianos terem sido expulsos, 40% do solo da Etiópia estava coberto e protegido por árvores. Menos de meio século mais tarde, depois de décadas marcadas pela expansão populacional mais rápida do mundo, por uma procura de lenha, pelo abuso das pastagens e pela exportação de madeiras para pagar juros e dívidas, menos de 1% da Etiópia está coberto de árvores. Primeiro, a maior parte do solo arável foi arrastada pelas águas; depois, vieram as secas - e lá ficaram. Os milhões que morreram à fome são, em sentido real, vítimas das tendências expansionistas da nossa civilização disfuncional.

Ao estudar as hipóteses de deter esta expansão destrutiva, ficamos quase aterrorizados pelo impulso implacável e aparentemente compulsivo de dominar todas as partes da Terra. As necessidades não satisfeitas da civilização alimentam o motor da agressão; estas necessidades nunca podem ser verdadeiramente satisfeitas. A área invadida é totalmente devastada, a sua produtividade natural esgotada, os seus recursos saqueados e rapidamente consumidos e toda esta destruição limita-se apenas a abrir o nosso apetite por mais.

Os membros mais fracos e mais impotentes da família disfuncional transformam-se nas vítimas de maus-tratos às mãos dos que são responsáveis por fornecer cuidados. De modo semelhante, abusamos sistematicamente das áreas mais vulneráveis e menos defendidas do mundo natural: as áreas húmidas, as florestas tropicais, os oceanos. Também maltratamos outros membros da família humana, especialmente aqueles que não se podem defender. Toleramos o roubo de terras aos povos indígenas, a exploração de áreas habitadas pelas populações mais pobres e - pior do que tudo - a violação dos direitos dos que virão depois de nós. À medida que esgotamos a terra a um ritmo completamente insustentável, fazemos com que seja impossível que os filhos dos nossos filhos tenham um nível de vida que se compare, mesmo remotamente, ao nosso.
Em termos filosóficos, o futuro é, afinal de contas, um presente vulnerável e em desenvolvimento e o desenvolvimento insustentável é, portanto, aquilo a que se pode chamar uma forma de «maltratar o futuro».
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Mas há uma saída. Não é necessário que um padrão de disfuncionalidade persista indefinidamente e a chave da mudança é a crua luz da verdade
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E, como Alice Miller e outros peritos mostraram, o acto de chorar a perda original enquanto se sente, total e conscientemente, a dor que se causou pode curar a ferida e libertar a vítima de mais escravização. Igualmente, se a crise do ecossistema global tem origem no padrão disfuncional do relacionamento da nossa civilização com o mundo natural, enfrentar e compreender esse padrão na sua totalidade e reconhecer o seu impacto destrutivo no ambiente e em nós, é o primeiro passo para chorar aquilo que perdemos, curar os males que fizemos à Terra e à nossa civilização e aceitar a nova história do que significa ser o guardião da Terra."

Extraído do capítulo "A Civilização Disfuncional" do livro "A Terra à procura de Equilíbrio, ecologia e espírito humano" , Al Gore, 1992 ("Earth in Balance"), Editorial Presença, 1993, tradução de Isabel Nunes

(Nota: os negrito são meus, os links  são sugestões minhas; as imagens foram obtidas na Internet)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Reconhecimento para a Palestina - um novo caminho para a paz

"Hoje o Conselho de Segurança da ONU se reuniu para discutir o apelo da Palestina para se tornar o 194º país do mundo. No entanto, governantes de países de destaque ainda estão em cima do muro. Somente um esforço gigantesco da opinião pública pode mudar a situação.

A Avaaz fez um pequeno, mas emocionante vídeo mostrando que essa proposta legítima é de fato a melhor oportunidade para acabar com o beco sem saída das infinitas negociações mal-sucedidas e abrir um novo caminho para a paz."  Fonte: AVAAZ


Apelo da AVAAZ:

"Enquanto a violência se espalha novamente e as tensões sobem no Oriente Médio, uma nova proposta de independência da Palestina ganha fôlego em todo o planeta. Se conseguirmos a aprovação dessa proposta na ONU, ela poderá significar um novo caminho para a paz.

Porém, os chefes de governo de países de destaque ainda estão em cima do muro e para convencê-los a apoiar a independência da Palestina precisamos reforçar a pressão da opinião pública. Muita gente acha que não entende a situação suficientemente bem para se mobilizar. Para ajudar, a Avaaz fez um novo vídeo de curta duração contando a verdade sobre o conflito. Se uma quantidade suficiente de pessoas assistir ao vídeo, assinar a petição e a encaminhar a todos os seus contatos, nossas lideranças serão forçadas a nos ouvir.

Quase 10 milhões de membros da Avaaz estão recebendo este e-mail. Vamos mudar o teor da conversa sobre o Oriente Médio e criar um maremoto de apoio à independência da Palestina. Assine a petição e, em seguida, encaminhe a todos os seus contatos!"

Se concorda, assine a petição da AVAAZ:

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Milho

"A história do milho, do México ao Brasil, da broa portuguesa aos combustíveis do século XXI, é parte integrante da forma como evoluíram as nossas civilizações. Este jogo de influências recíprocas não foi, e continua a não ser, isento de custos. Tal como resolve problemas, a tecnologia também os cria.
A escolha do que comemos, ou, em geral, de como interagimos e modificamos o nosso meio ambiente, não é apenas importante pelos impactos imediatos na nossa saúde. As escolhas que fazemos hoje definirão, no futuro próximo, a vida e lugar da nossa espécie."

Texto extraído da parte final do documentário "Milho" de 2008, rodado em Portugal, Estados Unidos, México e Brasil, que recomendo vivamente que veja e divulgue (clique na ligação a seguir):


Milho” é um documentário realizado por José Barahona, e uma produção Filmes do Tejo, que recebeu o Prémio Cine Eco em Movimento 2009

domingo, 21 de agosto de 2011

Aquecendo o Ambiente

Foi no princípio da década de 90, no âmbito de um mestrado na área do ambiente, que tive conhecimento do fenómeno do aquecimento global. Desde a Cimeira do Rio em 1992 que o aquecimento global e as alterações climáticas se tornaram assunto para agendas políticas, resultando mais tarde no protocolo de Quioto (1997), bem como tema conhecido de um restrito público activista e interessado. Mas as primeiras evidências de que a terra está a aquecer, e de que esse aquecimento tem como uma das causas a actividade humana, designadamente as emissões de CO2, já tinham sido apresentadas no meio científico no início da década de 80 por James Hansen.

A partir de 2006, através do filme "Uma Verdade Inconveniente", Al Gore divulgou a teoria do aquecimento global, levando a que muitas pessoas começassem a ficar sensibilizadas para o tema, e várias manifestações globais têm vindo, desde então a criar um movimento mundial que procura e propõe uma multiplicidade de soluções para minimizar as emissões de CO2.

Em paralelo com o aparecimento de uma consciência generalizada da urgência de medidas para "travar" ou minimizar as alterações climáticas, surgem teorias contrárias à do aquecimento global: umas que dizem que não há aquecimento global, outras confirmam a existência de aquecimento global, mas negam a influência da actividade humana como causa.

A dúvida instala-se ao ponto de haver países a retirar as alterações climáticas dos programas escolares (ver em Bioterra)

Entretanto, as catástrofes climáticas sucedem-se a velocidades e intensidades nunca antes testemunhadas. As várias e recentes cimeiras mundiais sobre o clima têm resultado também em catástrofes: de um lado, pequenos e pobres países que querem ver mudanças, não no clima, mas na sociedade, do outro, os países ricos e poderosos querendo manter o poder e o "business as usual" e ignorando problemas globais que afectam tantos milhões de pessoas. E surge a oportunidade do "negócio do carbono", e aí estão os predadores financeiros prontos a agarrar a oportunidade e a criar mais desequilíbrios económicos.

Então, quem não tem conhecimentos científicos suficientes para avaliar quem está correcto, como fazer? Se em questões de ciência o cepticismo é essencial, em questões de sobrevivência o princípio da precaução é fundamental. Além disso, também não é fácil saber o suficiente das ciências naturais de climatologia, física, química, ecologia, geologia, astronomia, biologia, matemática... para não falar nas ciências humanas, aqui "ocultas", de economia, sociologia, gestão, psicologia...

aqui foi apresentado um vídeo que explica, de forma acessível, como o método científico selecciona se uma determinada teoria é viável e consegue ou não "destruir" outra. A equipa do blogue Skeptical Science dedica-se ser céptica com os cépticos do aquecimento global, explica as várias evidências do aquecimento global e da influência da actividade humana no mesmo, rebatendo e desmontando os argumentos dos cépticos. Esta é a tradução da sua frase de apresentação:

"Cepticismo científico é saudável. Os cientistas devem sempre desafiar-se para melhorar a sua compreensão. No entanto, isto não é o que acontece com a negação das alterações climáticas. Os cépticos criticam vigorosamente qualquer evidência  que defenda a influência do homem no aquecimento global, no entanto, aderem a qualquer argumento, texto de opinião, blogue ou estudo que refute o aquecimento global. Este site é céptico sobre o cepticismo relativo ao aquecimento global. Os seus argumentos têm qualquer base científica? O que tem a arbitragem da literatura científica a dizer?"

No seu Guia Científico do Ceticismo quanto ao Aquecimento Global, são apresentados os fundamentos básicos e evidências, alguns ainda pouco divulgados, do aquecimento global e da contribuição das actividades humanas para o mesmo.

Segue-se a transcrição da versão portuguesa de um artigo sobre os argumentos mais utilizados pelos cépticos para desacreditar a teoria do aquecimento global, mas muitos mais (169) podem ser lidos (em inglês) aqui . Clique no link do argumento para aceder a uma explicação detalhada.
 
 
"Argumento cético O que a ciência diz
1 "O clima sempre mudou" Mudanças climáticas naturais do  passado mostram que o clima é sensível a um desequilíbrio energético. Se o planeta acumula calor, as temperaturas globais sobem. Atualmente, o CO2 está impondo um desequilíbrio energético devido a um aumento no efeito estufa. As mudanças climáticas do passado, na verdade, proporcionam evidência à sensibilidade do clima ao CO2.
2 "Atividade solar e clima: o sol é a causa do aquecimento global? " Nos últimos 35 anos de aquecimento global, o sol apresentou uma ligeira tendência de resfriamento. Sol e clima têm caminhado em direções opostas.
3 "O aquecimento global ainda está acontecendo?" Medições empíricas do conteúdo de calor da Terra mostram que o planeta ainda está acumulando calor e o aquecimento global ainda está ocorrendo. Temperaturas de superfície podem mostrar arrefecimento de curto prazo quando se troca calor entre a atmosfera e o oceano, que tem muito mais capacidade de armazenar calor do que o ar.  O planeta como um todo está acumulando calor devido a um desequilíbrio energético. A atmosfera está a aquecer. Os oceanos estão a acumular energia. A terra absorve energia e o gelo absorve calor para derreter. 
4 "Há consenso científico a respeito do aquecimento global?" A posição das Academias de Ciências de 19 países, mais várias organizações científicas que estudam climatologia, é que os seres humanos estão causando o aquecimento global. Mais especificamente, 97% dos climatologistas que ativamente publicam estudos endossam a posição do consenso.
5 "Qual a confiabilidade dos modelos climáticos?" Embora haja incertezas nos modelos climáticos, eles conseguem reproduzir com sucesso o passado e fizeram predições que foram subsequentemente confirmadas pelas observações.
6 "As medições de temperatura de superfície são confiáveis?" Vários estudos sobre o efeito de ilhas urbanas de calor e influência da localização dos medidores concluíram que eles têm influência desprezível nas tendências de longo prazo, particularmente quando feita a média de regiões extensas.
7 "O aquecimento global parou em 1998?" O planeta continuou a acumular calor desde 1998 - o aquecimento global ainda está acontecendo. No entanto, as temperaturas de superfície mostram muita variabilidade interna devido à troca de calor entre os oceanos e a atmosfera. 1998 foi um ano particularmente quente devido a um forte El Niño.
8 "A Antártica está perdendo ou ganhando gelo?" Enquanto o interior da Antártica Oriental está ganhando gelo continental, a Antártica como um todo está perdendo este gelo continental a uma razão cada vez mais rápida. O gelo oceânico antártico está aumentando apesar do Oceano Antártico estar se aquecendo intensamente.
9 "Os cientistas previram uma Era Glacial iminente nos anos 70?" As previsões de uma Era Glacial da década de 70 foram baseadas principalmente na mídia. A maioria das pesquisas daquele perído, publicadas em periódicos científicos e revisadas por pares, já previam o aquecimento causado pelo aumento de CO2.
10 "O CO2 sobe depois da temperatura - o que isso significa?" Quando a Terra sai de uma Era Glacial, o aquecimento não é iniciado pelo CO2, mas sim por mudanças na órbita terrestre. O aquecimento provoca a liberação de CO2 pelos oceanos. O CO2 amplifica aquele aquecimento inicial, espalhando o aquecimento por todo o planeta. Portanto, o CO2 causa aquecimento E TAMBÉM o aumento de temperatura causa aumento de CO2.
11 "Estamos nos aproximando de uma nova Era Glacial?" O efeito de aquecimento de mais CO2 se sobrepõe com folga à influência de mudanças na órbita da Terra ou atividade solar, mesmo que esta caísse para os os níveis do Mínimo de Maunder."
12 "As emissões humanas de CO2 são ínfimas comparadas com as da natureza?" O CO2 emitido pela natureza para a atmosfera (pelos oceanos e pelos seres vivos) é compensado pela absorção natural (pelo oceano e pela vegetação). A actividade humana emite cerca de 29 gigatoneladas de CO2 por ano, que representa cerca de 3,6% das emissões totais de CO2. No entanto a quantidade de CO2 na atmosfera está a aumentar 15 gigatoneladas por ano, pois enquanto cerca de metade está a ser absorvida por sumidouros naturais,  a outra metade está a alterar o equilíbrio natural, aumentando o CO2  para níveis não verificados pelo menos nos últimos nos 800 mil anos.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

20 de Agosto - o mundo em defesa da Amazónia

Amanhã, sábado, dia 20 de Agosto, no Brasil e no mundo inteiro pessoas sairão ás ruas em defesa dos povos, da floresta e dos rios da Amazónia, contra a construção da barragem de Belo Monte.

Em Portugal, as manifestações ocorrerão junto ao Consulado do Brasil, no PORTO -  Av. FRANÇA nº 20 e em LISBOA -  Praça de Luís de Camões - CHIADO, entre as 15:00h e as 18:00h


Saiba mais aqui sobre o impacto desta barragem nos povos, na floresta e no ecossistema da Amazónia, na zona do Rio Xingu, ou na página do Movimento Xingu Vivo para Sempre.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Uma questão de perspectiva e de opção

O texto que se segue é de Tsering Paldron, transcrito do seu bloguecom a amável autorização expressa da autora, a quem agradeço o inspirador texto e a permissão de o aqui publicar.

O lado bom do mundo


"Olhar para o lado bom da vida não significa fechar os olhos às ameaças terroristas ou à crise económica, fazendo de conta que não existem. Olhar para o lado bom da vida é uma opção. É escolher olhar para as pessoas boas e corajosas de que a vida está cheia, para os acontecimentos, descobertas ou iniciativas que trazem bem e dignificam os seres humanos, dar-lhes importância e privilegiá-los em relação aos outros, aqueles que a comunicação social atira cá para fora às centenas, quotidianamente.

Olhar para o lado bom da vida não é mais irrealista do que olhar para o lado mau – é apenas uma questão de perspectiva e de opção. Quando escolho dar ouvidos àquilo que reforça a mediocridade e o medo, deixando que entrem pela minha casa os fermentos da desconfiança e do egoísmo, estou a afastar-me dos outros seres humanos com quem partilho este planeta, a arranjar desculpas para enraizar ainda mais a separação entre os de cá e os de lá.

Mas quando escolho ouvir preferencialmente falar dos pequenos e grandes casos de bondade, altruísmo e coragem, lembro-me do fantástico potencial humano que todos possuímos e de como, apesar das diferenças, todos somos iguais. Dando ouvidos àquilo que nos dignifica, aprendo a valorizar os outros aos quais estou, de toda a forma, intimamente ligada nesta viagem que é a vida, condóminos que somos neste soberbo planeta azul.

Há muito que sinto a falta de um jornal com notícias deste tipo, um jornal que desse gosto ler e contrastasse, pelo seu conteúdo, com a tristeza das notícias habituais. À falta de um tal meio de comunicação, faço os possíveis por veicular, à minha escala e à minha maneira, o que de melhor há no ser humano e no mundo."

Fonte:  Blogue de Tsering Paldron. Fotos obtidas na internet

"Tsering Paldron nasceu e estudou em Lisboa e viveu mais de vinte anos no estrangeiro. Tornou-se budista em 1974 e monja em 1999. Ensina o budismo há mais de 16 anos e é autora de dois livros: “A Arte da Vida, Valores humanos no pensamento Budista” e “A Alquimia da Dor, Conselhos budistas para transformar o sofrimento”. É ainda co-autora de um terceiro: “A dignidade e o sentido da vida”. É vice-presidente da União Budista Portuguesa e Presidente da AMARA, Associação pela Dignidade na Vida e na Morte." Fonte: GrandYoga

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Um novo paradigma: "Cuidar"

 Encontrei o vídeo da conferência do educador colombiano Bernardo Toro no TEDx Amazônia, no artigo "Sobre a importância de cuidar" de Afonso Capelas Jr, no blogue Sustentável na Prática.
 
Um artigo que aconselho a lerem e um vídeo que aconselho a verem e divulgarem.

sábado, 13 de agosto de 2011

Lixo, arte e pessoas

Esta é a sinopse oficial do premiado filme Lixo Extraordinário (Waste Land):

"Filmado ao longo de dois anos (agosto de 2007 a maio de 2009), Lixo Extraordinário acompanha o trabalho do artista plástico Vik Muniz em um dos maiores aterros sanitários do mundo: o Jardim Gramacho, na periferia do Rio de Janeiro. Lá, ele fotografa um grupo de catadores de materiais recicláveis, com o objetivo inicial de retratá-los. No entanto, o trabalho com esses personagens revela a dignidade e o desespero que enfrentam quando sugeridos a reimaginar suas vidas fora daquele ambiente. A equipe tem acesso a todo o processo e, no final, revela o poder transformador da arte e da alquimia do espírito humano."

Muito se poderia dizer deste excelente filme, mas apenas aconselho a que o vejam. Fica o destaque para as palavras do catador Valter:

"Ruim não é ser pobre, ruim é ser rico no mais alto degrau da fama com a moral coberta de lama".

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Curadores Planetários

"Somente quando a última árvore for cortada;
  Somente quando o último rio for envenenado;
  Somente quando o último peixe for pescado;
  Somente então vocês descobrirão que dinheiro não pode ser comido!"

Provérbio Indígena Americano

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Os motivos da fome no mundo - parte 2

Há menos de duas semanas falei aqui nos motivos da fome do mundo, com o testemunho de  Jean Ziegler num documentário de 2006, em espanhol. Também de Espanha vem o testemunho de Esther Vivas, através de um texto intitulado "Los porqués del hambre", publicado no El País de 30/07/2011 e no seu blogue, e também através de um vídeo, abaixo incorporado (tradução do texto e  negritos meus, imagens obtidas na net).


"Vivemos num mundo de abundância. Hoje ele produz alimentos para 12.000 milhões pessoas, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), quando no planeta habitam 7.000. Comida, há. Então, por que uma em cada sete pessoas no mundo passa fome?

A emergência alimentar que afecta mais de 10 milhões de pessoas no Corno de África voltou a colocar na actualidade a fatalidade de uma catástrofe que nada tem de natural. Secas, inundações, guerras ... contribuem para o agravamento de uma situação de extrema vulnerabilidade alimentar, mas não são os únicos factores que a explicam.

A fome no Corno da África não é novidade. A Somália está enfrenta uma situação de insegurança alimentar há 20 anos. E, periodicamente, os meios de comunicação lembram-nos, nos nossos confortáveis ​​sofás, o impacto dramático da fome no mundo. Em 1984, quase um milhão de pessoas morreram na Etiópia; em 1992, 300.000 somalis morreram de fome; em 2005, quase cinco milhões de pessoas à beira da morte no Malawi, citando apenas alguns casos.

A fome não é uma fatalidade inevitável que afecta certos países. As causas da fome são políticas. Quem controla os recursos naturais (terra, água, sementes) que permitem a produção de alimentos? A quem beneficiam as políticas agrícolas e alimentares? Hoje, os alimentos converteram-se numa mercadoria, e sua principal função, a alimentação, ficou em segundo plano.

Se aponta a seca, com a consequente perda de colheitas e gado como um dos principais desencadeadores da fome no Corno de África, mas como é que países como os Estados Unidos e a Austrália, que sofrem severas secas periódicas, não sofrem de fome extrema? Evidentemente, os fenómenos meteorológicos podem agravar os problemas de alimentação, mas não o suficiente para explicar as causas da fome. No que respeita à produção de alimentos, o controle de recursos naturais é a chave para compreender quem e para quê se produz.

Em muitos países do Corno de África, o acesso à terra é um bem escasso. A compra massiva de solo fértil por investidores estrangeiros (agro-indústria, governos, fundos especulativos...) provocou a expulsão de milhares de camponeses de suas terras, diminuindo a capacidade desses países para se alimentarem. Assim, enquanto o Programa Alimentar Mundial tenta alimentar milhões de refugiados no Sudão, ocorre o paradoxo de que os governos estrangeiros (Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Coréia ...) estão a comprar as suas terras para produzir e exportar alimentos para as suas populações.

Além disso, há que recordar que a Somália, apesar das secas recorrentes, foi um país auto-suficiente na produção de alimentos até o final dos anos setenta. A sua soberania alimentar foi arrebatada em décadas posteriores. A partir dos anos oitenta, as políticas impostas pelo FMI e pelo Banco Mundial para o país pagar sua dívida ao Clube de Paris, forçaram a implementação de um conjunto de medidas de ajuste. No que se refere à agricultura, estas implicaram uma política de liberalização comercial e abertura dos seus mercados, permitindo a entrada massivo de produtos subsidiados, como arroz e trigo de multinacionais agroindustriais norteamericanas e europeias, que começaram a vender os seus produtos abaixo do preço de custo e fazendo concorrência desleal aos produtores locais. Desvalorizações periódicas da moeda somali também provocaram o aumento dos preços das matérias primas e fomentaram uma política de monoculturas para exportação, forçando, paulatinamente, ao abandono do campo. Histórias parecidas não ocorreram apenas em países de África, mas também na América Latina e na Ásia.

O aumento do preço dos cereais básicos é outro dos elementos identificados como detonador para a fome no Corno de África. Na Somália, os preços do milho e do sorgo vermelho aumentaram 106% e 180%, respectivamente, em apenas um ano. Na Etiópia, o custo do trigo subiu 85% em relação ao ano anterior. No Quénia, o milho atingiu um valor 55% superior ao de 2010. Uma escalada que tornou esses alimentos inacessíveis. Mas, quais são as razões para a escalada de preços? Vários indícios apontam para a especulação financeira com matérias-primas alimentares como uma das principais causas.

O preço dos alimentos é determinado nas bolsas de valores, a mais importante das quais, em todo o mundo, é a de Chicago, enquanto que na Europa os alimentos são comercializados nas bolsas de futuros em Londres, Paris, Amsterdão e Frankfurt. Mas hoje em dia, a maior parte das compras e vendas desses bens não corresponde a fluxos de comércio real. Estima-se que, nas palavras de Mike Masters, do Hedge Fund Capital Management Masters, 75% do investimento financeiro no sector agrícola é especulativo. Compram-se e vendem-se matérias primas com o objectivo de especular e fazer negócios, que se pepercute, finalmente, no aumento do preço dos alimentos no consumidor final. Os mesmos bancos, fundos de alto risco, companhias de seguros, que causaram a crise das hipotecas subprime são aqueles que hoje especulam com os alimentos, aproveitando-se de um mercado global profundamente desregulado e altamente rentável.

A crise alimentar à escala global e a fome no Corno de África em particular, são o resultado da globalização dos alimentos ao serviço de interesses privados. A cadeia de produção, distribuição e consumo de alimentos está nas mãos de algumas multinacionais que colocam seus interesses particulares à frente das necessidades colectivas e ao longo das últimas décadas e, com o apoio das instituições financeiras internacionais, têm corroído a capacidade os Estados do sul para decidir sobre as suas políticas agrícolas e alimentares.

Voltando ao início, por que há fome num mundo de abundância? A produção de alimentos triplicou desde os anos sessenta, enquanto que a população global apenas se duplicou desde então. Não enfrentamos um problema de produção de alimentos, mas um problema de acesso. Como disse o relator da ONU para o direito à alimentação, Olivier de Schutter, numa entrevista ao El País: "A fome é um problema político. É uma questão de justiça social e políticas de redistribuição."

Se queremos acabar com a fome no mundo é urgente apostar noutras políticas alimentares e agrícolas que coloquem no seu foco as pessoas, as suas necessidades, aqueles que trabalham a terra e o ecossistema. Apostar naquilo que o movimento internacional La Via Campesina chama de "soberania alimentar" e recuperar a capacidade de decisão sobre aquilo que comemos. Tomando de empréstimo um dos lemas mais populares do Movimento 15-M, é necessária uma "democracia real, já" na agricultura e na alimentação."

Esther Vivas, do Centro de Estudos sobre Movimentos Sociais da Universidade Pompeu Fabra, e autora de "Del campo al plato. Los circuitos de producción y distribución de alimentos"


Especulación alimentaria = HAMBRE from ATTAC.TV on Vimeo.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Localização - a economia da felicidade

"A economia global (e as suas grandes distâncias) é responsável pela pobreza e pelo agravamento do fosso entre ricos e pobres, em todos os países."  

Esta é uma frase de Helena Norberg-Hodge que destaco do vídeo da sua palestra TED, abaixo incorporado (e que infelizmente não encontrei legendado em português).

Helena Norberg-Hodge é a fundadora e directora da Sociedade Internacional para a Ecologia e Cultura (ISEC) e do seu antecessor, o Projecto Ladakh. É a autora de Ancient Futures: Learning from Ladakh e co-autora de Bringing the Food Economy Home. O seu trabalho pioneiro na região do Himalaia de Ladakh é reconhecido internacionalmente, tendo-lhe valido o Right Livelihood Award (1986), também conhecido como o "Prémio Nobel Alternativo".

Para Helena, a solução para as crises que vivemos é a localização da economia. No fundo é a Transição que já muitas vezes aqui foi abordada. Comunidades que produzem o essencial para a sua sustentação, comunidades que se interajudam, comunidades que consomem muito menos energia e que produzem muito menos resíduos.

"A localização é uma solução multiplicadora que oferece uma alternativa sistémica de longo alcance ao capitalismo corporativo, assim como ao comunismo. É uma forma de reduzir drasticamente as emissões de CO2, o consumo de energia de todos os tipos, e a produção de resíduos. A actividade económica localizada pode restaurar a biodiversidade, assim como a diversidade cultural.  É uma maneira de criar postos de trabalho significativos e seguros para toda a população global. E talvez o mais importante de tudo, porque trata de reconstruir redes de conexão, o tecido da comunidade entre pessoas e entre pessoas e o seu meio ambiente local: é a economia da felicidade". (tradução daqui)



"Localização é uma estratégia poderosa para ajudar a reparar o nosso fracturado mundo – os nossos ecossistemas, as nossas sociedades e nós próprios. Longe das velhas instituições de poder, as pessoas estão a começar a construir um futuro muito diferente ..."

Este é o mote do documentário de Helena Norberg-Hodge, Steven Gorelick e John Page denominado "The Economics of Happiness", com testemunhos de Vandana Shiva, Bill McKibben, David Korten, Michael Shuman, Juliet Schor, Richard Heinberg, Rob Hopkins, Andrew Simms, Zac Goldsmith, Samdhong Rinpoche, e outros. Veja o trailer aqui.


sábado, 6 de agosto de 2011

Reutilização de manuais escolares

No ano passado foi criada, por Miguel António Albuquerque, da AVE - Associação Verde Esperança, uma rede para facilitar a obtenção, troca ou doação de manuais escolares usados. Essa plataforma, passou entretanto da plataforma ning, onde teria de ser paga, para a plataforma grouply, gratuita.

Para aceder, vá a Manuais Escolares Usados,  consulte e registe-se, caso queira deixar a sua mensagem, e verifique se encontra os manuais que precisa ou liste os manuais que pretende doar ou trocar.

A ideia é que a plataforma seja um ponto de convergência para troca de informação, de forma a reduzir os gastos e o desperdício de livros e a proteger o ambiente.

O novo Acordo Ortográfico é aplicável ao sistema educativo no ano lectivo de 2011/2012, bem como aos respectivos manuais escolares a adoptar. No entanto, mantém-se a vigência dos manuais escolares já adoptados até que sejam objecto de reimpressão ou cesse o respectivo período de adopção (nºs 3 e 4 da Resolução de Conselho de Ministros n.º 8/2011).

Muitas Câmaras Municipais, Bibliotecas e Escolas têm tido parte activa na troca e doação de manuais escolares usados. Sobre projectos para facilitar a reutilização de manuais escolares, ficam aqui listados alguns sites e notícias recentes que encontrei na Internet: 
Projecto Dar de Volta (Região de Setúbal) -   Almada, Barreiro, Palmela, Seixal, Setúbal;
Projecto Dê P'rá Troca (Lisboa) - Freguesias de São Francisco Xavier e Santa Maria de Belém;  
Cartaxo; Castro Marim; Chamusca; Mangualde; Oeiras;
Funchal (Madeira)~; Praia da Vitória (Ilha Terceira, Açores).