sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Mudar de perspetiva

«É preciso reprogramar o consciente e o inconsciente colectivo.

Swans Reflecting Elephants, Salvador Dali, 1937
Durante pelo menos duas décadas fui um ignorante político. 
A oratória inflamada no anfiteatro da faculdade não me convenceu como mola de vida e o filme da governação pareceu-me uma fatalidade necessária.
Até que me cruzei com o serviço público. Vivi baralhado entre uma pretensa necessidade de nutrir a carreira e o desrespeito pela ética pessoal. Desisti.
Quando multiplicamos a nossa pequena experiência pelo todo a visão torna-se assustadora. Vomitei, então, frustração e desespero em emails inconsequentes, em publicações de denúncia nas redes sociais e conversas repetitivas. Cheguei mesmo a organizar eventos de rua que chamavam a atenção e pediam novas possibilidades.
Tudo errado.
Quanto mais nos conectarmos com as notícias de corrupção, de má gestão e abuso do poder mais essa realidade é interiormente vivida e nos parece incontornável. Quanto mais publicarmos fotos e exemplos de má liderança mais lhes damos vida.
O que vale a pena é a mudança de perspectiva. O dar-se conta, como que de um observador exterior se tratasse, verificando que jamais um povo poderá viver fora da verdade e do amor por todos os concidadãos, mente e espírito colectivo.
É nesta crença inabalável, na certeza que a massa crítica já é presente, que todos encontraremos a clareza e força para agir quando explodir o momento.»


Este é um pequeno texto de um antigo colega de que tinha perdido o rasto, e que há pouco reencontrei numa rede social. Gostei e quis partilhar.

6 comentários:

  1. A primeira reacção, de um adormecido é normal. A segunda reacção também é normal até ao ponto em que declara a impotência, a falta de armas... Vejamos o que vai fazer a seguir...

    Fez bem em partilhar!

    (há muito que não deixava um comentário, a tecnologia nem sempre ajuda...)

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    1. Olá Rogério,

      Pois, acho que são reações normais quando alguém toma consciência de uma realidade má. Ao que me tenho apercebido, as fases devem ser:

      1- negar, não acreditar no óbvio (muito longa)
      2 - começar a duvidar, ficar muito baralhado
      3 - chegar à conclusão que é mesmo assim
      4 - a revolta, a crítica furiosa
      5 - a impotência, a apatia, o desespero
      6 - a recolha, a reflexão
      7 - a mudança de perspetiva
      8 - a mudança de vida

      Penso que a tal mudança de perspetiva é sobretudo esse olhar que passou a só ver o mal e que procura culpados para descarregar a revolta (e que os há bem culpados, sem dúvida), esse olhar que se volta para dentro e que pergunta - não sou eu também um dos outros? não estive também cego tanto tempo, participando no maldito jogo? o que eu posso mudar? posso mudar os outros? não! Mas posso mudar a minha vida e o meu olhar sobre o que me rodeia. Como sou imperfeito, sei que vou cometer erros, mas pelo menos, já sei qual não é o caminho.

      Entretanto, quando muitos estiverem fora desse caminho, e os seus muitos caminhos convergirem, talvez a mudança ocorra também por fora :)

      (há quanto tempo, Rogério, bem vindo de volta :), mas eu também estou em grande falta com a sua conversa avinagrada; eu sei que têm tido problemas com os comentários, eu também tive quando coloquei os comentários por aqui em ligação com o Google+, até que cortei essa ligação direta)

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  2. Olá Manuela,

    percebo o que o teu amigo diz, mas não concordo na totalidade.

    "Quanto mais nos conectarmos com as notícias de corrupção, de má gestão e abuso do poder mais essa realidade é interiormente vivida e nos parece incontornável. Quanto mais publicarmos fotos e exemplos de má liderança mais lhes damos vida"

    Não lhes damos vida, elas existem, estão bem presentes e existe imensa gente que nem se dá conta da "real" realidade, é por isso que existem pessoas como tu, a transmitir informações aos mais desinformados.

    E na verdade, acho que esse conhecimento, pelo menos na minha maneira de ver as coisas, o que traz, é vontade de mudar, primeiro os actos da minha própria pessoa e depois a vontade de partilhar o que se sabe com os outros​
    ​.

    Com essa consciência/conhecimento, vemos que até não é tão difícil que muitas coisas mudem, pois basta começar em cada um de nós essa mudança.

    Bom, para mim é simples assim, os outros é que parece que não acreditam.

    Os sentimentos do teu amigo, são semelhantes a algumas pessoas que conheço, e percebo perfeitamente, mas acho que temos que ter as duas vertentes: a nossa própria mudança e a partilha do que acontece à nossa volta, de bom e de mau.

    beijinho GRANDE para ti

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    1. Olá aNaTureza

      Plenamente de acordo contigo, as duas vertentes são necessárias.

      Penso que o que o Rui quer dizer é que a situação só piora se nos deixarmos aprisionar pelo lado negativo da realidade, nunca que a realidade deve ser esquecida ou ocultada, antes pelo contrário, deve ser divulgada. Mas essa fase de revolta e desespero precisa ser ultrapassada para que esse tal "mal" não nos torne a vida num inferno, ocultando a beleza que nos rodeia e nos impeça de agir positivamente.

      Na minha opinião, no entanto, se essa divulgação ultrapassar certos limites e se tornar numa forma de coagir, não sei se dará frutos, pois cada um tem o seu tempo para enxergar, e para passar por todo esse processo que falei atrás.

      Eu estive sem enxergar durante muito tempo, e tenho a certeza que ainda há muito mais que não enxergo. Mas continuo o meu caminho, cada um tem o seu, e todos merecem respeito, pois se não enxergam, a maior parte da culpa é da época em que nasceram e da cultura que lhes foi impingida. Alguns talvez nunca cheguem a enxergar, mas quem já enxergou que algo vai muito mal, sente a necessidade de saber mais e de ajudar os outro a enxergar.

      Espero ajudar a que enxerguem pelos seus próprios olhos e não pelos meus. Como disse Saramago, e parafraseia o Rogério Pereira no subtítulo do seu blogue Conversa Avinagrada, "Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro."

      Muito obrigada pela visita, já tinha saudade destas nossas conversas :)

      Beijinhos, e parafraseando-te: VIVA A VIDA

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  3. Pois é, já lá vai algum tempo em que não "conversávamos"...

    Percebo perfeitamente o que o teu amigo quis dizer, e tu enunciaste perfeitamente o processo do "acordar", o último item é o mais importante. Infelizmente ou felizmente, parece que para chegarmos a isso, temos que passar pelos outros processos.

    Mais beijinhos e VIVA A VIDA SEMPRE! :-)

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  4. aNaTureza, continuamos em sintonia :)

    Muito obrigada por existires e por visitares este cantinho :)

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