sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Manifesto de Suzuki

Depois do "julgamento" público de David Suzuki, no Canadá, em que foi considerado inocente, chegou a vez de aqui deixar o seu Manifesto do Carbono, em vídeo legendado e em texto (traduzido daqui).

Neste manifesto, David Suzuki acusa as corporações, o governo e os cidadãos do Canadá de crimes contra as futuras gerações.



Manifesto do Carbono de David Suzuki 

«Sou David Suzuki. Estou aqui hoje como um ancião, para além das tentações do dinheiro, fama ou poder! Não tenho uma agenda escondida, venho falar a verdade!

Os seres humanos no mundo natural são muitas vezes demasiado belos para palavras! Passei a maior parte da minha carreira a filmar as maravilhas da natureza e nosso lugar nela. E muitas vezes, as palavras faltaram-me! Aproximando-me do fim da minha vida, espanto-me com o poder, a tecnologia, a riqueza e o consumo que a humanidade adquiriu! E que transformou as nossas vidas, mas ao mesmo tempo, destruindo os sistemas de suporte da vida em que a nossa existência e bem estar dependem: o ar, a água, o solo e os alimentos, atividade fotossintética e biodiversidade.

Agora, os meus netos são a alegria da minha vida, mas eu sei como é incerto o seu futuro, e que todas as ninharias da nossa sociedade de consumo não podem compensar as maravilhosas riquezas e a generosidade da natureza! Mas não é preciso ficar comovido com a beleza do mundo para compreender que dependemos dele completamente para a nossa própria existência. A minha geração pós-guerra e os 'boomers´(geração de 60) que se seguiram viveram como reis e rainhas, numa festa, como se não houvesse amanhã, sem preocupações com o tipo de mundo que iríamos deixar para as crianças. Bem, a festa acabou!

“Seres humanos e o mundo natural estão em rota de colisão… Se não forem controladas, muitas das nossas práticas correntes colocam em sério risco o futuro que queremos para a sociedade humana… Não restam mais do que uma ou poucas décadas antes que as hipóteses de reverter as ameaças que agora enfrentamos desapareçam, e as perspetivas para a humanidade, diminuam drasticamente… É necessária uma grande mudança na nossa administração da terra e da vida na terra, se se quer evitar um enorme sofrimento humano, a nossa casa comum neste planeta não pode ser irremediavelmente mutilado.”

Essas palavras são de um Aviso de Cientistas do Mundo à Humanidade, de novembro de 1992, há mais de duas décadas. Foi assinado por mais de 1700 cientistas seniores, de 71 países, e incluiu mais de metade de todos os vencedores de prémios Nobel.

Desde esse aviso dos cientistas, estudos científicos atrás de estudos científicos, documentaram o estado perigoso da atmosfera, dos oceanos, das florestas, da extinção de espécies, poluição tóxica, e consequências imprevistas de novas e poderosas tecnologias.

Agora, estamos à beira de um precipício, que nós próprios cavamos. Em menos de cem anos, conseguimos perder de vista a nossa dependência absoluta da natureza, e a responsabilidade de não deixar desmoronar a nossa casa. Congratulamo-nos com o crescimento, a expansão, os avanços tecnológicos e os lucros, e vivemos na ilusão de que a nossa criatividade nos permitirá manter a economia a crescer sem limite.

O Canadá anda perto da linha da frente quando se trata de crescimento e lucro no mundo. E a tirania da crença de que a economia é o que mais importa para o país transformou-nos até um ponto em que dificilmente nos conseguimos reconhecer. George Monbiot escreveu: "O Canadá, um país decente, culto e liberal, foi transformado num petro-estado delinquente." Eu acredito que isto é o que somos, um país que, apesar de tudo o que a ciência nos diz, e apesar do que as mudanças no clima nos dizem, está determinado a espremer todas as gotas de petróleo do solo, para agarrar o último dos lucros, para alimentar um vício que sabemos que está a destruir o futuro das novas gerações.

Governos e corporações (empresas multinacionais) não estão apenas a falhar-nos, eles são as forças motrizes que nos estão a levar ao limite, ignorando deliberadamente as consequências e cometendo, assim, o que só pode ser chamado de crime intergeracional. As consequências das suas ações - e inações - vão-se repercutir por gerações. A cegueira voluntária é uma ofensa condenável, assim como a negligência criminosa, mas um crime intergeracional é um conceito tão recente que ainda temos de desenvolver os mecanismos legais para agir. Aqueles a quem chamam os nossos líderes, devem ser responsabilizados.

E esta responsabilidade deve-se estender a todos os cidadãos do Canadá. Nós falhamos às nossas crianças e ao nosso planeta, por causa do nosso medo da mudança e do nosso medo do futuro.
Eu acuso as corporações, incluindo os sectores automóvel, energia, farmacêutica, química e agrícola: de colocarem o lucro e o crescimento antes de tudo o resto, incluindo da sobrevivência e saúde da sociedade. De que o seu lobbyng corporativo está a tornar a agenda do país vergonhosa.
Eu acuso os políticos canadianos de crimes intergeracionais. As suas ações afetarão os nossos netos e os netos deles.

Eu acuso as corporações canadianas e o governo de atividades imorais, com consequências devastadoras para as nações mais pobres e vulneráveis do globo.

Eu acuso os políticos do Canadá e os seus cidadãos de cegueira voluntária, de falharem em estar informados de assuntos críticos que têm o poder de influenciar, e de falharem em agir quando estão conscientes de crises ecológicas evitáveis.

Se o meu país se recusa a me exonerar, então ele é culpado por não conseguir defender a acusação alegada, de liberdade de expressão. Se as minhas palavras forem consideradas traição, então que seja!

Com o meu Manifesto do Carbono, eu pretendo parar estes crimes

1 - Acabar com os combustíveis fósseis como a principal fonte de energia. Durante uma geração, devem ser mantidos no solo. Isso significa que a exploração e os subsídios para a indústria de combustíveis fósseis acaba agora.

2 - Salvar os maiores sumidouros de carbono da terra: a floresta boreal do Canadá e os nossos oceanos devem ser protegidos.

3 - 70% da nossa energia tem de ser de origem renovável no prazo de uma geração.

4 - Um imposto sobre o carbono de 150 dólares por tonelada, começa agora.

5 - Os cientistas do clima do Canadá devem poder partilhar as suas descobertas sem censura e sem interferência de interesses políticos e corporativos.

Ofereço-vos este manifesto - compromisso

Os seres humanos tornaram-se tão poderosos que estão a alterar as propriedades biológicas, químicas e físicas do planeta numa escala geológica. Devemos olhar para o futuro, e a ciência, em vez da política ou da economia, deve ser o nosso guia.

Eu sei que a nossa dependência dos combustíveis fósseis tem de acabar.

Eu sei que serão necessárias enormes mudanças para nós sobrevivermos como espécie, ainda mais para prosperar numa crise global convergente em torno do clima, alimentação, água, combustível e economia.

Comprometo-me a parar a epidemia de culpa à volta da crise climática e a reconhecer a minha própria responsabilidade.

A maneira como vivo a minha vida é parte do problema.

Acredito que precisamos de uma nova visão para o futuro como canadianos e como seres humanos
Eu declaro que estou pronto para implementar a mudança.

Quero ser parte da solução, não parte do problema.

Eu estou com o Manifesto do Carbono.

Este é o nosso caminho para a frente!»

Fonte: Tradução do "Suzuki´s Manifesto", Canadá, outubro de 2013

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

"A lei do eucaplito livre"

Imagem obtida aqui
Sobre a eucaliptização de Portugal já aqui falamos há mais de um ano, quando a lei que agora liberaliza o eucalipto era apenas uma proposta. De lá para cá, a proposta teve uma ligeira operação de cosmética, tendo resultado no Decreto-lei 96/2013, publicado em 19 de julho e que "Estabelece o regime jurídico a que estão sujeitas, no território continental, as ações de arborização e rearborização com recurso a espécies florestais".

Já há uns tempos que pretendia voltar ao assunto, mas a publicação de hoje, de João Camargo, na Visão, não me deixa adiar mais. Por isso, recomendo vivamente a sua leitura (link no título abaixo), não podendo deixar de trazer para aqui alguns parágrafos do brilhante texto intitulado

 O nome das coisas: o Decreto-Lei nº 96/2013 é a "Lei do Eucalipto Livre"
por João Camargo, em Visão Verde, 27/11/2013 (extrato):

«... Mas a "Lei do Eucalipto Livre" tem exclusivamente que ver com eucaliptos e com a liberalização da sua plantação. Senão vejamos: esta lei simplifica plantações de eucaliptos, mas complica a plantação de espécies florestais autóctones como o sobreiro, o castanheiro, o carvalho ou a azinheira, que passa a ter que ser comunicada. Que simplificação da burocracia é esta, quando passa a ter que ser comunicada, por exemplo, a plantação de sobreiros no meio do montado alentejano ou de carvalhos no Douro?
...
Se esta lei for revogada, não será a garantia de que no futuro tudo correrá melhor. Se esta lei não for revogada, temos a garantia de que no futuro, na nossa floresta e no nosso território as coisas correrão bastante pior.
 ...
Revogar é a única palavra que temos de associar a este decreto-lei.»

Ler  o texto completo em: http://visao.sapo.pt/o-nome-das-coisas-o-decreto-lei-n-962013-e-a-lei-do-eucalipto-livre=f759210#ixzz2lslNh4bm

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O problema da obediência civil

oward Zinn and Matt Damon | Foto: Scott Wintrow/ Getty Images
Matt Damon lê um texto do norte-americano Howard Zinn, de 1970.

Howard Zinn (1922-2010) foi um historiador, autor, professor de ciência político e ativista social.

O texto intitula-se "O problema é a obediência civil".

Embora em inglês e sem legendas, vale a pena ouvir e refletir.


Matt Damon reads from Howard Zinn's speech "The Problem is Civil Obedience" (November 1970) from Voices of a People's History on Vimeo.

sábado, 23 de novembro de 2013

"A espiral da morte do Ártico e a bomba-relógio do metano"

"Arctic Death Spiral and the Methane Time Bomb" é um recente documentário sobre as consequências do rápido derretimento do gelo no Ártico.  Um cenário bem pior do que o tão falado em 2007!

Imagem obtida aqui
O filme começa com o discurso hipócrita dos presidentes dos Estados Unidos desde os anos 60, continua com o testemunho deveras preocupante de vários cientistas, e acaba com o desmascarar da hipocrisia feito por Severn Suzuki na Cimeira do Rio em 1992. 

"O gelo está a derrer no Ártico a uma das taxas mais rápidas da história humana. Pesquisadores e cientistas do clima que monitorizam o derretimento do gelo no Ártico começaram a usar o termo sinistro "espiral da morte" para descrever o que está a acontecer no topo do mundo." (daqui).



(Para ver legendas em português, selecione a caixa de legendas em baixo, aparece "inglês", escolha acima "Traduzir legendas" e então escolha "português" ou a língua que pretender)

terça-feira, 19 de novembro de 2013

James Hansen: "Porque devo falar sobre alterações climáticas"

«Foi detetada influência humana no aquecimento da atmosfera e do oceano, nas mudanças no ciclo hidrológico global, nas reduções da neve e do gelo, no aumento do nível do mar, e nas mudanças ocorridas em alguns eventos climáticos extremos. Esta evidência de influência humana tem crescido desde o AR4 (IPCC Fourth Assessment Report: Climate Change 2007). É extremamente provável que a influência humana tenha sido a causa dominante do aquecimento observado desde meados do século 20.»

Imagem obtida em National Geographic
Esta é uma das frases do resumo do relatório do Painel Intergovernamental para as alterações climáticas de 2013 (Climate Change 2013: The Physical Science Basis).

A seguir, uma palestra de James Hansen, um cientista da NASA que desde os anos 80 vem alertando para a influência humana nas alterações climáticas e para o perigo que estas representam, onde explicou, em 2012, porque razão deve falar sobre as alterações climáticas.



sábado, 16 de novembro de 2013

Ajude a libertar os 30 do Ártico

Trinta pessoas estão prisioneiras na Rússia há quase dois meses, após um protesto pacífico contra a exploração de petróleo no Ártico. 

Os 28 ativistas da Greenpeace, entre os quais está a brasileira Ana Paula Maciel, e 2 jornalistas, foram acusados de pirataria e vandalismo, e enfrentam penas até 15 anos de prisão.

Ajude a libertá-los, pois protestar pacificamente não é crime. Crime  é o que as petrolíferas estão a fazer no Ártico (ecocídio).

Um simples e-mail ou um telefonema para a embaixada russa no seu país é a ajuda que lhe pedem contra esta injustiça.

Veja como ajudar aqui (Portugal), aqui (Brasil), ou aqui (Internacional). 



O governo holandês pediu a libertação imediata do navio Arctic Sunrise e de seus tripulantes ao Tribunal Internacional de Direito do Mar (ITLOS), um órgão independente criado para resolver disputas sobre interpretação e aplicação da Convenção de Direito Marítimo da ONU. No próximo dia 22, o ITLOS deve anunciar uma posição sobre o caso. (Fonte: Zero Hora)



(Publicado em 11/11/2013, republicado em 16/11/2013 com a inclusão do vídeo Save the Arctic and Free the Arctic 30)

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Eco-aldeias e permacultura (Ecocentro IPEC - Brasil)

«O IPEC (Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado) é uma organização não governamental sem fins lucrativos que tem seu escritório no Ecocentro, localizado na cidade de Pirenópolis, Goiás. O Ipec foi fundado em 1998 com a finalidade de estabelecer soluções apropriadas para problemas na sociedade, promover a viabilidade de uma cultura sustentável, oportunizar experiências educativas e disseminar modelos no cerrado e no Brasil.» (continua aqui)


«Reportagem do Globo Repórter (25.05.2007) sobre Ecovilas, episódio "Amigos do Planeta", gravado no Ecocentro IPEC - Pirenópolis - GO. Saiba mais no site: www.ecocentro.org»:

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Curso de Permacultura em Famalicão

Curso de Design em Permacultura organizado e ministrado por Ceiba Permacultura (Henrique Zamith e Carla Braga), a começar em 30 de novembro 2013, em Vila Nova de Famalicão.


«O PDC orienta-se pelo currículo standard de 72 horas e dos 14 capítulos do Manuela de Design em Permacultura de Bill Mollison, contudo não é certificado, mas será certamente um espaço de partilha de experiências e ideias.» www.facebook/ceiba.permacultura

Este será com certeza um curso especial, de verdadeiro espírito de partilha, um dos princípios éticos da permacultura, em que o pagamento é feito por troca de bens ou serviços com que cada um possa contribuir. Especial também porque a inscrição pode ser feita para o curso integral ou por módulos.

Inscrições e questões para ceiba.permacultura@gmail.com
Mais informações em https://www.facebook.com/events/443032415801428/

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Transgénicos fora de controle em todo o mundo

Comunicado da Plataforma Transgénicos Fora , 2013/11/12: 


Imagem obtida do relatório da TESTbiotech
Lisboa/Munique - 12 Nov 2013 - É hoje divulgado o primeiro relatório global sobre o alastramento incontrolável da contaminação transgénica em espécies como o milho, arroz, algodão, colza e até um choupo e uma gramínea.

Este problema já foi detetado em regiões e países como os Estados Unidos, Canadá, América Central, Japão, China, Austrália e Europa. Em muitos casos as plantas foram descobertas muito para lá dos terrenos onde estavam cultivadas. Em algumas regiões, os transgenes já passaram para as plantas selvagens.

Esta síntese documental é publicada no arranque da conferência internacional sobre coexistência entre agricultura transgénica e convencional que começa hoje em Lisboa e é patrocinada pela indústria, incluindo Monsanto e Pioneer. O Comissário Europeu Tonio Borg marcará presença através de vídeo, e a Ministra Assunção Cristas também falará na sessão de abertura.

"A coexistência entre a agricultura transgénica e a biodiversidade é uma miragem. A contaminação já chegou às populações selvagens e continua a espalhar-se: quem vai proteger os ecossistemas? Estamos perante um passo irreversível e insustentável e é a indústria que está a decidir por nós, com toda a ligeireza.", afirma Margarida Silva, da Plataforma Transgénicos Fora.

Há várias razões para a contaminação. Para além dos cultivos comerciais e dos campos experimentais de transgénicos, as quedas de semente viável durante o transporte de matérias primas para alimentação e rações são também uma fonte de poluição generalizada. As consequências não podem ser antecipadas com exatidão, e torna-se claro com este relatório que não se consegue prever como é que as plantas transgénicas vão interagir com as restantes.

"O Comissário Tonio Borg, que está atualmente a tentar forçar a entrada de mais transgénicos na União Europeia, devia ter consciência das consequências desta tecnologia à escala mundial", lembra Christoph Then, do Testbiotech, o instituto que produziu o relatório. "Precisamos de legislação que garanta que a libertação de transgénicos é bloqueada a não ser que que seja possível proceder à sua remoção sempre que necessário."

Um dossiê jurídico publicado recentemente pelo Testbiotech mostra falhas legais significativas. O princípio da precaução, tal como estabelecido pela UE, só pode ser implementado se houver mecanismos de remoção dos transgénicos em caso de necessidade face a uma eventual emergência ambiental. Falta clarificação jurídica e prática, o que significa um risco acrescido para as sementes de que depende o futuro de todos.

O relatório hoje publicado - Transgene escape: Global atlas of uncontrolled spread of genetically engineered plants - foi preparado com o financiamento da Fundação Gregor Louisoder Umweltstiftung, de Munique (Alemanha).»


Ligações:
Relatório: http://www.testbiotech.org/en/node/944
Dossier jurídico sobre falhas da legislação europeia: http://www.testbiotech.org/en/node/915
Plataforma Transgénicos Fora: http://www.stopogm.net/
Conferência internacional GMCC13: http://gmcc13.org/»

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

ECOCÍDIO - o quinto Crime Contra a Paz

Imagem daqui
Polly Higgins, que advoga que o Ecocídio seja considerado um Crime Contra a Paz, foi uma das oradoras na excelente conferência "Educar para o património comum: do intangível cultural ao intangível natural", que ocorreu nos dias 1 e 2 de novembro de 2013na Fundação de Serralves, Porto.

Na sua apresentação, ela foi bem clara ao afirmar que não chega desacelerar o ciclo do mal (destruição/ esgotamento de recursos/conflitos/guerra), mas que é preciso quebrá-lo. Explicou também como o Ecocídio já esteve para ser considerado como um dos Crimes Contra a Paz no Estatuto de Roma, mas certas "forças ocultas" o impediram à última hora. Também disse que 3000 corporações são responsáveis pela maior parte dos crimes ambientais e da destruição (de origem humana) de ecossistemas no planeta.
Enquanto Polly Higgins e a Iniciativa Global Erradicar o Ecocídio continuam esta luta a nível global (e que podem ajudar assinando esta petição ou de outras maneiras), na Europa um grupo de cidadãos deu início a uma Iniciativa de Cidadania Europeia (ICE) ACABEMOS COM O ECOCÍDIO NA EUROPA (End Ecocide in Europe).



Porque faz sentido para entender, a seguir, a tradução da História do Ecocídio da respetiva página da ICE:

«"Se a liberdade significa alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir", George Orwell no prefácio do livro Animal Farm.

Isto é particularmente verdadeiro para o conceito de tornar o ecocídio um crime, ideia que já existe desde os anos 50. O ecocídio estava incluído inicialmente como um dos Crimes Contra a Paz, ao lado do genocídio, mas foi abandonado à última hora - provavelmente devido à oposição de alguns governos. A única referência que se manteve dentro dos crimes contra a paz é a menção de "danos generalizados, a longo prazo e graves ao meio ambiente natural" como um crime de guerra (Estatuto de Roma, Art. 8 º, 2 b, iv) - criando a situação absurda que ecocídio é hoje um crime em tempo de guerra, mas não durante a paz. Nós acreditamos que isso tem de mudar e a história a seguir mostra que o ecocídio foi discutido pela academia e pelas comissões competentes da ONU – só falta a vontade política e um movimento de cidadãos para que isso aconteça.

A primeira pessoa a discutir abertamente o ecocídio foi Professor Arthur Galston , o cientista cuja investigação levou à invenção do Agente Laranja , o tóxico que viria a devastar Vietnam durante a guerra. Falando em Washington DC em 1970, antes da Conferência sobre a Guerra e Responsabilidade Nacional , ele pediu um novo acordo internacional para banir o ecocídio que ele definiu como : " ... devastação e destruição que visam danificar ou destruir a ecologia de áreas geográficas em detrimento de toda a vida, seja humana, animal ou vegetal".

A sua voz encontrou uma alma gémea em 1972, quando o primeiro-ministro sueco Olof Palme - na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano , em Estocolmo (que instituiu o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o PNUMA ou UNEP) - citou a guerra no Vietnam como um "ultraje por vezes descrito como ecocídio" . Curiosamente, o Vietnam também introduziu o ecocídio como crime doméstico em 1990.

Apenas um ano mais tarde , Richard Falk, professor emérito de direito internacional da Universidade de Princeton, estabeleceu que a intenção era basicamente irrelevante quando se trata de enquadrar a responsabilidade por danos ambientais, porque a maioria dos casos resultou de outro objetivo, como lucro ou vantagem militar. Este quadro emprestou ao projeto de Falk para a Convenção do Ecocídio 1973 ainda mais autoridade, e tornou-o mais eficaz a nível internacional do seria a Convenção do Genocídio.

Em 1978, um estudo oficial da ONU propôs incluir o Ecocídio na Convenção sobre Genocídio. O relatório Whitaker de 1985 chegou à mesma conclusão, recomendando que deve ser dada atenção especial ao ecocídio, etnocídio e genocídio cultural aquando da revisão da Convenção sobre Genocídio.

Pesquisa realizada em 1988 pelo advogado canadense-australiano Mark Gray e publicado em 1996, estabeleceu a base legal para o proposto crime de ecocídio, provando que os princípios internacionais das leis de direitos humanos e ambientais suportam esse crime.

O projeto do Código de Crimes contra a Paz e a Segurança da Humanidade de 1993 (precursor do Estatuto de Roma de 1998, que estabelece os Crimes Contra a Paz) incluiu um crime de ecocídio. No entanto, no momento em que o Estatuto de Roma foi adotado, o ecocídio tinha desaparecido da proposta. Apenas há registo de três países se terem oposto à sua inclusão, a Holanda, o Reino Unido e os Estados Unidos da América. As razões são desconhecidas, mas suspeita-se que as armas nucleares estariam nas mentes dos que se opuseram à inclusão do crime de ecocídio.

Assim, os quatro Crimes Contra a Paz adotados são: 
  • Crimes contra a humanidade;
  • Genocídio;
  • Crimes de guerra;
  • Crimes de agressão. 
A única referência restante ao ecocídio é o nº 2-b)iv) do artigo 8º do Estatuto de Roma, que se refere ao "danos generalizados, a longo prazo e graves ao ambiente natural" como crime de guerra - no entanto, dada a preposição “E” (ao contrário do nossa proposta de “OU”), até agora não foi possível processar alguém por este crime que é extremamente difícil de provar.

Em 2010, a advogada Polly Higgins, agarrou o desafio e apresentou à Comissão de Direito da ONU a sua proposta para incluir o ecocídio no Estatuto de Roma, o quinto crime contra a paz em falta.

Em 2012, um grupo de cidadãos da União Europeia encetou o desafio de mobilizar um milhão de europeus nesta questão e propor uma Lei do Ecocídio na Europa e mais além.

A Lei do Ecocídio é uma lei cujo tempo chegou. Podemos fazer com que aconteça, só é preciso vontade política. Mas os políticos precisam de ser empurrados. E é por isso que precisamos de um movimento de cidadãos. Junte-se a nós hoje, votando aqui, partilhando nas suas redes e entrando em contacto se se quiser envolver.»

Assine a ICE ACABEMOS COM O ECOCÍDIO NA EUROPA, uma iniciativa de cidadãos para dar Direitos ao Planeta Terra, em: https://ec.europa.eu/citizens-initiative/REQ-ECI-2012-000029/public/

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O "Julgamento" de David Suzuki

Imagem obtida aqui
O cientista e ambientalista canadiano de origem japonesa David Suzuki, depois de 30 anos dedicados à natureza, resolveu acusar publicamente o governo canadiano, as empresas canadianas e mesmo os cidadãos canadianos, de crimes graves contra o país, contra o ambiente e contra o planeta.

Para dar visibilidade aos seus argumentos  e à discussão sobre o tema, no próximo dia 6 de novembro ocorrerá um debate em forma de "julgamento" que poderá ser visto em direto em http://trialofsuzuki.ca/#home, e em que todos os canadianos poderão votar como elementos do júri.

Parece-me uma excelente estratégia para chamar a atenção da população e de todos os "atores" para um tema tão preocupante e simultaneamente desprezado como é o perigoso caminho que a humanidade leva ao destruir o seu ambiente de suporte. 

Imagem obtida aqui
E nada mais lógico que isto aconteça no Canadá, um país com alguma tradição de consciência ambiental, mas que nos últimos anos tem cometido atrocidades ambientais completamente criminosas, como é o caso da extração de petróleo de areias betuminosas (vejam na imagem ao lado e no google maps no que transformam a paisagem, a floresta boreal, os ecossistemas).



«Imagine um tempo em que os nossos cientistas mais confiáveis ​​e respeitados são julgados num tribunal de justiça por se manifestarem contra as nossas práticas ambientais. O "Julgamento" apresenta os pontos de vista sobre as alterações climáticas de um cientista conhecido e controverso, e dá os seus apoiantes e aos que discordam dele, igual tempo para se desafiarem uns aos outros relativamente a ideias sobre o nosso ambiente em mudança, e sobre como a maneira como vivemos esses impactos.

O "Julgamento de David Suzuki" - um projeto de envolvimento público concebido e produzido por Laurie Brown, é apresentado por Cape Farewell, em parceria com Donnelly Law, e ROM Cultura Contemporânea, como parte do Carbono 14: Clima é Cultura.»

Fonte: http://www.rom.on.ca/en/activities-programs/events-calendar/the-trial-of-david-suzuki

Manifesto de David Suzuki: http://trialofsuzuki.ca/#manifesto


sábado, 2 de novembro de 2013

"Somos a primeira pessoa do plural" - por José Luís Peixoto

Imagem do filme Baraka

por José Luís Peixoto, dezembro 2011

«Estamos tão perto uns dos outros. Somos contemporâneos, podemos juntar-nos na mesma frase, conjugarmo-nos no mesmo verbo e, no entanto, carregamos um invisível que nos afasta. Ouvimos os vizinhos de cima a arrastarem cadeiras, a atravessarem o corredor com sapatos de salto alto, a sua roupa molhada pinga sobre a nossa roupa a secar; ouvimos a voz dos vizinhos de baixo, dão gargalhadas, a nossa roupa molhada pinga sobre a roupa deles a secar; cheiramos as torradas dos vizinhos do lado, ouvimo-los a chamar o elevador e, no entanto, o nosso maior problema não é apenas não nos reconhecermos na rua. O nosso problema grande é estarmos convencidos que os problemas deles não nos dizem respeito. A nossa tragédia é acharmos que não temos nada a ver com isso.

Há três ou quatro anos, caminhava com um conhecido no aeroporto. De repente, ouviu-se um estalido. Ele agarrou-se ao peito com as duas mãos, caiu de joelhos e, pálido, esperou por morrer. Não morreu. Tinha-lhe rebentado um isqueiro no bolso da camisa. Aliviado, encostado a um balcão, a beber um copo de água, explicou que esse ardor repentino e esse susto pareceram-lhe um ataque cardíaco. Nunca tinha tido um ataque cardíaco antes, por isso confiou em descrições vagas, a que nunca tinha realmente prestado muita atenção.

Há alguns anos também, talvez um pouco mais do que três ou quatro, tinha acabado de participar num jantar cordial, reconfortante. Toda a gente estava bem disposta, à porta dos anfitriões, longa despedida, graças, à espera de táxi. De repente, tocou o telefone de um senhor com quem tinha estado a conversar durante todo o serão. Ninguém reparou nesse telefonema até ao momento em que o senhor começou a chorar convulsivamente. Ficámos todos a olhar sem saber como chegar até ele. Tínhamos braços, estendíamo-los na sua direcção, mas continuavam distantes.

Irritamo-nos com a existência uns dos outros. Fazemos sinais de luzes àquele homem com setenta anos, num carro dos anos setenta, que anda a setenta quilómetros por hora na auto-estrada. Contrariados, esperamos por aquela pessoa que atravessa a passadeira, enchemos as bochechas de ar e sopramos. Impacientes, batemos no volante. Daí a minutos, depois de estacionarmos o carro, somos essa pessoa a atravessar a passadeira. Da mesma maneira, daqui a algum tempo, não muito, seremos esse homem com setenta, dos setenta, a setenta. O tempo passa. Se deitarmos lixo para o chão, alguém o apanhará.

Um amigo que teve um AVC, que passou por uma reabilitação profunda, que enfrentou a morte e a paralisia, depois de anos de fisioterapia, depois de esforço gigante e sofrimento gigante, falou-me da forma como esse susto muda tudo. Passa-se a apreciar aquilo que realmente importa. A imensa maioria das preocupações transformam-se em luxos ridículos, desprezíveis, alimentados pela cegueira. Após essa experiência de quase morte, ganha-se uma nitidez invulgar, que, no entanto, esteve sempre lá. Para percebê-la, bastava levar a sério a promessa de transitoriedade de tudo e, também, levar a sério essa palavra, esse planeta: o amor. Ao ouvi-lo, fui capaz de entender aquilo que dizia. Depois, também fui capaz de entender quando me disse: mas, sabes, ao fim de algum tempo, esquecemo-nos, voltamos a tomar tudo por garantido e voltamos a cometer os mesmos erros.

Repito para mim próprio: estamos tão perto uns dos outros. Não há nenhum motivo para acreditarmos que ganhamos se os outros perderem. Os outros não são outros porque levam muito daquilo que nos pertence e que só pode existir sendo levado por eles. Eles definem-nos tanto quanto nós os definimos a eles. Eles são nós. Eles somos nós. Se tivermos essa consciência, podemos usar todo o seu tamanho. Mesmo que pudéssemos existir sozinhos, de olhos fechados, com os ouvidos tapados, seríamos já bastante grandes, mas existe algo muito maior do que nós. Fazemos parte dessa imensidão. Somos essa imensidão que, vista daqui, parece infinita.»