domingo, 31 de maio de 2015

Cogumelos em casa - em borras de café

Cultivar cogumelos em casa é a mensagem mais visitada deste blogue, embora pareça pouco ter a ver com o tema da sustentabilidade. Na verdade, cultivar ou produzir alimentos em casa tem muito a ver com sustentabilidade, pois é uma boa maneira contribuirmos para a soberania alimentar, para uma alimentação mais saudável e para a redução de desperdícios. Os cogumelos são também uma fonte de proteína, por isso muito úteis para quem quer comer menos (ou nenhuma) carne. Além disso, o papel decompositor dos fungos é absolutamente essencial para o equilíbrio dos ecossistemas.

Imagem obtida aqui
Os fungos são constituídos por estruturas microscópicas filamentosas e muito ramificadas chamadas hifas. Ao crescerem, as hifas entrelaçam-se e formam uma teia branca que se designa micélio. O cogumelo é uma espécie de fruto de alguns tipos de fungos, onde se produzem os esporos.

De acordo com o tipo de alimentação, os fungos podem ser:
- saprófitas (ou decompositores) - alimentam-se de matéria orgânica morta, sendo os recicladores por excelência da natureza;
- parasitas, atacam e alimentam-se de matéria orgânica viva, como árvores, acabando por causar a sua morte;
- micorrízicos (ou mutualistas) - estabelecem uma relação de simbiose com as plantas (ligação entre o micélio e as raízes), fornecendo-lhes elementos minerais e água; por sua vez, as plantas fornecem-lhes hidratos de carbono resultante da fotossíntese, de que se alimentam.

Na última categoria incluem-se uma boa parte dos cogumelos silvestres que se "apanham" nas florestas no outono e que dificilmente são produzidos para comercialização; nos primeiros estão aqueles que se conseguem produzir "industrialmente" ou em casa, como o caso aqui apresentado, os pleurotus ostreatus.

No post referido atrás, falei ao de leve na produção de cogumelos em fardos de palha, bastante produtivos, mas com uma logística algo difícil sobretudo para quem vive em apartamento; pelo que em muitos casos compensa encomendar o fardo pronto a produzir.

Já a produção de cogumelos em borras de café  é muito mais fácil de iniciar. Embora a produtividade seja inferior aos fardos de palha, aproveitam-se as borras de café (de casa ou de um café próximo), e  a preparação é possível no espaço de uma cozinha, mesmo pequena.


Em qualquer dos casos, no cultivo em casa é mais prático comprar o spawn (micélio desenvolvido num cereal, normalmente em forma de grão) que será usado para "inocular" o substrato (palha ou café); pois começar a reprodução a partir de um cogumelo e desenvolver o micélio em meios de cultura apropriados implica bastante tempo e trabalho praticamente "laboratorial".  

Com os devidos cuidados e nas proporções adequadas, mistura-se o spawn com as borras de café, coloca-se em sacos ou outros recipientes, e guardam-se cerca de 1 mês em local escuro para desenvolvimento do micélio. Só então se coloca em local com luz (não demais) , temperatura amena e humidade suficiente, até os cogumelos começarem a surgir (o que leva mais 3 ou 4 semanas).

Recomendo, novamente, uma formação básica ou workshop sobre o tema (por exemplo, com o Marco Ferraz da AmbiFungi, com Pedro Capela da FungiFresh, com a formadora Sara Ramos Barbosa, ou com Quadrante Natural). Há muito a aprender sobre os fungos antes de começar a produzir.


Claro que mais fácil ainda é comprar o kit de produção de cogumelos e esperar que produzam, como aconteceu no caso retratado nas fotos, com o kit CogusBox gentilmente enviado pelo Fernando Castro da Cogus (no vídeo abaixo, programa Biosfera), a quem agradeço mais um vez.

O spawn (a quem também chamam "semente" de cogumelo) pode ser adquirido em: Cogus,  BioInvitroQuadrante Natural, entre outras.

terça-feira, 19 de maio de 2015

"O Império do Consumo", por Eduardo Galeano

"A explosão do consumo no mundo atual faz mais barulho do que todas as guerras e mais algazarra do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco, aquele que bebe por conta, fica duplamente bêbado. A farra aturde e anuvia o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço.  Mas a cultura de consumo faz muito barulho, assim como o tambor, porque está vazia; e na hora da verdade, quando o estrondo cessa e acaba a festa, o bêbado acorda, sozinho, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos quebrados que deve pagar. A expansão da procura choca com as fronteiras impostas pelo mesmo sistema que a gera. O sistema precisa de mercados cada vez mais abertos e mais amplos tanto quanto os pulmões precisam de ar e, ao mesmo tempo, requer que estejam no chão, como estão, os preços das matérias primas e da força de trabalho humana. O sistema fala em nome de todos, dirige a todos suas imperiosas ordens de consumo, entre todos espalha a febre compradora; mas não tem jeito: para quase todo o mundo esta aventura começa e termina no ecrã do televisor. A maioria, que contrai dívidas para ter coisas, termina tendo apenas dívidas para pagar suas dívidas que geram novas dívidas, e acaba consumindo fantasias que, às vezes, materializa cometendo delitos. 

Imagem obtida aqui
O direito ao desperdício, privilégio de poucos, afirma ser a liberdade de todos.  Diz-me quanto consomes e te direi quanto vales. Esta civilização não deixa as flores dormirem, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores estão expostas à luz contínua, para fazer com que cresçam mais rapidamente. Nas fábricas de ovos, a noite também está proibida para as galinhas. E as pessoas estão condenadas à insónia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem metade dos calmantes, ansiolíticos e demais drogas químicas que são vendidas legalmente no mundo; e mais da metade das drogas proibidas que são vendidas ilegalmente, o que não é pouca coisa quando se tem em conta que os EUA contam com apenas cinco por cento da população mundial.

«Gente infeliz, essa que vive se comparando», lamenta uma mulher no bairro de Buceo, em Montevideu. A dor de já não ser, que outrora cantava o tango, deu lugar à vergonha de não ter. Um homem pobre é um pobre homem. «Quando não tens nada, pensas que não vales nada», diz um rapaz no bairro Villa Fiorito, em Buenos Aires. E outro confirma, na cidade dominicana de San Francisco de Macorís: «Meus irmãos trabalham para as marcas. Vivem comprando etiquetas, e vivem suando feito loucos para pagar as prestações».  Invisível violência do mercado: a diversidade é inimiga da rentabilidade, e a uniformidade é que manda. A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todas partes suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora do que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.

O consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, que confunde quantidade com qualidade, confunde gordura com boa alimentação. Segundo a revista científica The Lancet, na última década a «obesidade mórbida» aumentou quase 30% entre a população jovem dos países mais desenvolvidos. Entre as crianças norte-americanas, a obesidade aumentou 40% nos últimos dezasseis anos, segundo pesquisa recente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Colorado. O país que inventou as comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat free, tem a maior quantidade de gordos do mundo. O consumidor exemplar desce do carro só para trabalhar e para assistir televisão. Sentado na frente do pequeno ecrã, passa quatro horas por dia devorando comida plástica.

Triunfa o lixo disfarçado de comida: essa indústria está a conquistar os paladares do mundo e está a demolir as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que vêm de longe, contam, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade e constituem um património coletivo que, de algum modo, está nos fogões de todos e não apenas na mesa dos ricos. Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão sendo esmagadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hambúrguer, a ditadura do fast food. A plastificação da comida em escala mundial, obra do McDonald´s, do Burger King e de outras fábricas, viola com sucesso o direito à autodeterminação da cozinha: direito sagrado, porque na boca a alma tem uma das suas portas.

O campeonato do mundo de futebol de 1998 confirmou para nós, entre outras coisas, que o cartão MasterCard tonifica os músculos, que a Coca-Cola proporciona eterna juventude e que o cardápio do McDonald´s não pode faltar na barriga de um bom atleta. O imenso exército do McDonald´s dispara hambúrgueres nas bocas das crianças e dos adultos no planeta inteiro. O duplo arco dessa M serviu como estandarte, durante a recente conquista dos países do Leste Europeu.  As filas na frente do McDonald´s de Moscovo, inaugurado em 1990 com bandas e fanfarras, simbolizaram a vitória do Ocidente com tanta eloquência quanto a queda do Muro de Berlim.

Um sinal dos tempos: essa empresa, que encarna as virtudes do mundo livre, nega aos seus empregados a liberdade de filiar-se a qualquer sindicato. O McDonald´s viola, assim, um direito legalmente consagrado nos muitos países onde opera. Em 1997, alguns trabalhadores, membros disso que a empresa chama de Macfamília, tentaram sindicalizar-se num restaurante de Montreal, no Canadá: o restaurante fechou. Mas, em 98, outros empregados do McDonald´s, em uma pequena cidade próxima a Vancouver, conseguiram essa conquista, digna do Guinness.

Imagem obtida aqui
As massas consumidoras recebem ordens num idioma universal: a publicidade conseguiu aquilo que o esperanto quis e não pôde.  Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que a televisão transmite. No último quarto de século, os gastos em propaganda dobraram no mundo todo. Graças a isso, as crianças pobres bebem cada vez mais Coca-Cola e cada vez menos leite e o tempo de lazer vai se tornando tempo de consumo obrigatório. Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisão, e a televisão está com a palavra. Comprado em prestações, esse animalzinho é uma prova da vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos.  Pobres e ricos conhecem, assim, as qualidades dos automóveis do último modelo, e pobres e ricos ficam sabendo das vantajosas taxas de juros que tal ou qual banco oferece.


Os especialistas sabem transformar as mercadorias em mágicos conjuntos contra a solidão. As coisas possuem atributos humanos: acariciam, fazem companhia, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o carro é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados.  Os buracos no peito são preenchidos enchendo-os de coisas, ou sonhando com fazer isso. E as coisas não só podem abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social, salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade de classes, chaves que abrem as portas proibidas. Quanto mais exclusivas, melhor: as coisas escolhem você e salvam você do anonimato das multidões. A publicidade não informa sobre o produto que vende, ou faz isso muito raramente. Isso é o que menos importa. Sua função primordial consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias. Comprando este creme de barbear, você quer se transformar em quem?

O criminologista Anthony Platt observou que os delitos das ruas não são fruto somente da extrema pobreza. Também são fruto da ética individualista. A obsessão social pelo sucesso, diz Platt, incide decisivamente sobre a apropriação ilegal das coisas. Eu sempre ouvi dizer que o dinheiro não traz felicidade; mas qualquer pobre que assista televisão tem motivos de sobra para acreditar que o dinheiro traz algo tão parecido que a diferença é assunto para especialistas.

Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o século XX marcou o fim de sete mil anos de vida humana centrada na agricultura, desde que apareceram os primeiros cultivos, no final do paleolítico. A população mundial torna-se urbana, os camponeses tornam-se cidadãos. Na América Latina temos campos sem ninguém e enormes formigueiros urbanos: as maiores cidades do mundo, e as mais injustas. Expulsos pela agricultura moderna de exportação e pela erosão das suas terras, os camponeses invadem os subúrbios. Eles acreditam que Deus está em todas partes, mas por experiência própria sabem que atende nos grandes centros urbanos. As cidades prometem trabalho, prosperidade, um futuro para os filhos. Nos campos, os esperadores olham a vida passar, e morrem bocejando; nas cidades, a vida acontece e chama. Amontoados em cortiços, a primeira coisa que os recém chegados descobrem é que o trabalho falta e os braços sobram, que nada é de graça e que os artigos de luxo mais caros são o ar e o silêncio.

Quando o século XIV nascia, o padre Giordano da Rivalto pronunciou, em Florença, um elogio das cidades. Disse que as cidades cresciam «porque as pessoas sentem gosto em juntar-se». Juntar-se, encontrar-se. Mas, quem encontra com quem? A esperança encontra-se com a realidade? O desejo, encontra-se com o mundo? E as pessoas, encontram-se com as pessoas?Se as relações humanas foram reduzidas a relações entre coisas, quanta gente encontra-se com as coisas?

O mundo inteiro tende a transformar-se em uma grande tela de televisão, na qual as coisas se olham mas não se tocam. As mercadorias em oferta invadem e privatizam os espaços públicos. As estações de autocarros e de combóios, que até pouco tempo atrás eram espaços de encontro entre pessoas, estão se a transformar, agora, em espaços de exibição comercial.

O shopping center, o centro comercial, vitrine de todas as vitrines, impõe sua presença esmagadora. As multidões concorrem, em peregrinação, a esse templo maior das missas do consumo. A maioria dos devotos contempla, em êxtase, as coisas que seus bolsos não podem pagar, enquanto a minoria compradora é submetida ao bombardeio da oferta incessante e extenuante. A multidão, que sobe e desce pelas escadas mecânicas, viaja pelo mundo: os manequins vestem como em Milão ou Paris e as máquinas soam como em Chicago; e para ver e ouvir não é preciso pagar passagem. Os turistas vindos das cidades do interior, ou das cidades que ainda não mereceram estas benesses da felicidade moderna, posam para a foto, aos pés das marcas internacionais mais famosas, tal e como antes posavam aos pés da estátua do prócer na praça.  Beatriz Solano observou que os habitantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes iam até o centro. O tradicional passeio do fim-de-semana até o centro da cidade tende a ser substituído pela excursão até esses centros urbanos. De banho tomado, arrumados e penteados, vestidos com suas melhores galas, os visitantes vêm para uma festa à qual não foram convidados, mas podem olhar tudo. Famílias inteiras empreendem a viagem na cápsula espacial que percorre o universo do consumo, onde a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante de modelos, marcas e etiquetas.

A cultura do consumo, cultura do efémero, condena tudo à descartabilidade mediática. Tudo muda no ritmo vertiginoso da moda, colocada ao serviço da necessidade de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje, quando o único que permanece é a insegurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, são tão voláteis quanto o capital que as financia e o trabalho que as gera. O dinheiro voa na velocidade da luz: ontem estava lá, hoje está aqui, amanhã quem sabe onde, e todo trabalhador é um desempregado em potencial. Paradoxalmente, os shoppings centers, reinos da fugacidade, oferecem a mais bem-sucedida ilusão de segurança. Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do espaço, além das turbulências da perigosa realidade do mundo.

Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efémera, que se esgota assim como se esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem pausa, no mercado. Mas, para qual outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos obrigados a acreditar na historinha de que Deus vendeu o planeta para umas poucas empresas porque, estando de mau humor, decidiu privatizar o universo? A sociedade de consumo é uma armadilha para pegar bobos.  Aqueles que comandam o jogo fazem de conta que não sabem disso, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca natureza que nos resta. A injustiça social não é um erro por corrigir, nem um defeito por superar: é uma necessidade essencial. Não existe natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta."

O Império do Consumo, por Eduardo Galeano (1940-2015)

Fonte em português (com algumas adaptações):  Carta Maior (Blog do Emir), 17/01/2007  

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Democracia? (Manuel Arriaga)

«"Reinventar a democracia" é a versão portuguesa de "Rebooting democracy", lançado no Reino Unido há um ano, quando o autor (Manuel Arriaga) criou também um site na Internet com o mesmo nome (Reboot Democracy), para estimular o debate.» 
Fonte: Visão

Ainda não li o livro, mas a sua apresentação, feita pelo autor no Jornal 2 (aos 35-39 min, extracto no vídeo abaixo) em 7/5, aguçou-me a curiosidade.
Na entrevista à SIC Notícias de 10/5 (aqui), o economista Manuel Arriaga  dá, no final, uma breve explicação sobre a "Deliberação Cívica", também mencionada no artigo da Visão "E se os políticos fôssemos nós?"



Para refletir sobre a dita "democracia" em que vivemos também em:

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Pela liberdade de não comer carne

A liberdade verdadeiramente só existe quando dois fatores essenciais se conjugam: estar informado (com a verdade) e existirem opções de escolha.  Hoje em dia, o maior entrave à informação com verdade vem precisamente de quem deveria ter a responsabilidade de informar: os meios de comunicação de massas. Não só pela falta de informação em assuntos importantes, mas sobretudo pela lavagem cerebral feita pela publicidade.  

Ou seja, a liberdade de expressão das grandes empresas e das marcas para se venderem reduz a nossa liberdade de estarmos informados, porque nos manipulam. Se o permitirmos. Pois quem estiver interessado em informar-se, ainda o consegue. Na internet, tal é possível, mas com esforço para "separar o trigo do joio", já que muito é o lixo e manipulação que por aí também existe.

Quanto às opções disponíveis, venho hoje lembrar que as opções de alimentação vegetariana, além de mais saudáveis (desde que equilibradas), e de ambientalmente mais justas, são um direito de todos.  Sim, de todos! Porque todos aqueles que não são vegetarianos têm também o direito de fazer refeições vegetarianas!  
Por isso, em nome da liberdade, da saúde e do ambiente, peço a todos os portugueses que lerem esta mensagem , para assinarem esta petição:



«Para: Presidente da Assembleia da República, Presidente da República

Estamos no ano de 2015 e são muitos os portugueses que, por opção ou necessidade, motivados por aspectos éticos, ecológicos ou de saúde, seguem regimes de alimentação que diferem da norma, nomeadamente uma alimentação ovo-lacto-vegetariana ou estritamente vegetal (vegetariana).

De acordo com um estudo realizado pela empresa Nielsen, promovido pelo Centro Vegetariano, em 2007 eram 30.000 os portugueses que tinham adoptado uma dieta vegetariana, e pelo menos 5% da população portuguesa excluía um dos alimentos tradicionais (carne, peixe, laticínios, ovos) do seu regime de alimentação.

Supõe-se que este número tenha crescido amplamente, baseando-se esta previsão no crescimento da oferta de produtos vegetarianos no mercado alimentar português, sobretudo nas grandes superfícies comerciais, tal como é constatável presentemente.

A adopção de um regime alimentar vegetariano espelha a liberdade de escolha de cada indivíduo, tal como é abertamente declarada e defendida na Constituição Portuguesa, por acordo com os princípios democráticos.

Contudo, o governo português não antecipa os diferentes regimes alimentares dos portugueses, nem tampouco promove a diversidade de opções alimentares em cantinas escolares e universitárias, ou em hospitais, para ir ao encontro das necessidades de milhares de portugueses que se vêem frustrados face à manifesta escassez actual de opções vegetarianas.

Perante esta falha democrática, urge-se que sejam legisladas novas medidas políticas que assegurem a diversidade de regimes alimentares nas cantinas portuguesas, através da implementação mandatória de uma opção vegetariana em todas as principais instituições de ensino portuguesas, seja a creche ou jardim de infância, ensinos públicos básico e secundário, e ensino universitário, assim como em todos os hospitais nacionais.»